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ARTIGO

Fofoca de futebol e política

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Usar o futebol como metáfora para falar de política só não é mais clichê que ouvir fofoca de desconhecidos no ônibus. Mas fica aqui porque vai valer a pena mais essa comparação até porque ela começou com um amigo ouvindo a conversa no ônibus e me mandando um áudio contando tudo. Citaria a fonte com todo gosto, mas fofoca boa é fofoca com fonte anônima.

Os desconhecidos no busão reclamavam sobre como os nomes nas camisas brilham mais do que os escudos no peito. Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo, enfim todos maiores que os clubes que representam. Mas e se essa lógica de superexposição individual servisse também no jogo político brasileiro?

Vivemos uma era de hipervalorização do indivíduo. Tanto nos gramados quanto nas urnas. O candidato virou “influencer eleitoral”, com marca própria, rede de seguidores e patrocínios narrativos que pouco (ou nada) dialogam com os programas partidários. A legenda virou rodapé. Não que os partidos já tenham sido grandes protagonistas, mas nunca foram tão eclipsados como agora.

Essa preocupação não é nova e temos visto várias mudanças na legislação que reorganizam os partidos dentro do jogo democrático. Exemplo é que desde 2020, as coligações proporcionais foram proibidas (Emenda Constitucional n° 97/2017). Agora, os partidos não podem mais formar alianças temporárias apenas para disputar eleições legislativas o que impede aquele velho jogo de somar votos com legendas de aluguel e depois seguir cada um para o seu lado.

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Para compensar isso, o sistema passou a permitir as federações partidárias que são alianças entre partidos que compartilham atuação política e ideológica por no mínimo quatro anos. Não é coligação, é casamento união quase universal. Com estatuto, fidelidade e responsabilidades. Essa regra força os partidos a construírem identidade programática e ação coordenada.

Como aponta Adriana Velame Branco, especialista em Direito Eleitoral, o pluripartidarismo previsto pela Constituição de 1988 garante espaço a diferentes ideologias, mas exige coerência organizativa para funcionar como representação legítima. E, nesse novo cenário, o partido volta a ser protagonista institucional, ao menos na teoria.

Mas, porém, todavia, entretanto… assim como clubes menores sobrevivem à sombra de suas estrelas, partidos pequenos giram em torno de candidatos com grande apelo pessoal. Quando o craque muda de time, ele leva a torcida. Quando o político muda de partido, leva os votos, mas nem sempre deixa um legado.

E esse é o risco que a nova legislação tenta evitar: construir votos ancorados apenas na imagem pessoal, sem projeto coletivo, fragiliza o sistema democrático. Como apontado no artigo de Simone Diniz (2020), a fidelidade partidária e o vínculo com o projeto político são fundamentos essenciais para o amadurecimento eleitoral e institucional do Brasil.

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Não se trata de apagar o brilho individual. Todo time precisa de um camisa 10. Mas sem defesa, meio de campo e treinador, ninguém levanta taça. Na política, precisamos de líderes, sim, mas que joguem em nome de ideias, partidos e estratégias de país. É preciso que o projeto político do partido seja claro e que as pessoas percebam isso.

A metáfora do futebol mostra que o sucesso individual não sustenta projetos duradouros. O eleitor precisa entender que partido não é só legenda no fundo do cartaz. É programa. É time. É identidade institucional. E, como tal, precisa ser acompanhado, fiscalizado e compreendido.

A arquibancada já está cheia. Só falta escolher: você torce por um craque… ou por um projeto?

 

Leituras recomendadas:

Adriana Lima Velame Branco, “O papel dos partidos políticos no Estado democrático brasileiro”.

Luiz Cláudio Pinho, “A evolução do sistema de partidos e as reformas eleitorais no Brasil” (2019).

Simone Diniz, “Federações partidárias e o sistema proporcional no Brasil”, Revista Em Tese, 2020.

Andhressa Barboza é jornalista e cientista social

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