Parece que Donald Trump resolveu mexer com o Brasil na hora errada. Exatamente, quando a parte majoritária do Congresso (383 deputados federais), cuja batata já estava assando, resolveu ir adiante e se recusou taxar os mais ricos (*), na tentativa de sangrar até morte o Governo Lula, pensando, óbvio, nas eleições de 2026.
O efeito foi contrário. Acho até que não contavam com a reação de movimentos como os “Nós contra eles” e “Somos 99%”, entre outros, e sentiram o baque. Também pudera, os vídeos acertaram na veia. Acostumados a bater para bombar nas redes sociais, sob o argumento da livre manifestação de ideias, reclamaram de uma possível agressividade e pediram moderação.
(Que tal uma reciprocidade, voltar atrás, votar novamente e aprovar o decreto do IOF? Seria um bom início de conversa).
Imediatamente em seguida, veio Trump com mais uma de suas ameaças e a anunciou a sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras ao seu país. Funcionou como fermento no crescimento da onda nacionalista. Brasileiros invadiram seu perfil e mandaram-no “cuidar de seu país” e deixar “o Brasil em paz”. Aliás, essa percepção não é exclusiva nossa. Segundo uma pesquisa da Altas, sete em cada 10 estadunidenses são contra a interferência em outros países.
Uma outra, publicada mês passado pela Pew Research Center, aponta que a maioria dos países discorda de suas políticas globais, entre elas migração e mudanças climáticas. Sem contar que 80% o classificaram como arrogante. Tão arrogante que suas medidas têm provocado efeitos adversos, como já ocorreu no Canadá, no México e, agora, por aqui. Levanta a bola dos governos nacionais por ele atacados. Lula aproveitou e rebateu com uma cortada.
Meu amigo Totó, filósofo de botequim, diz que o mundo é um armazém de secos e molhados. Tem de tudo. E tem mesmo. Apesar de estar mal na fita, Trump tem lá seus apoiadores, como o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu; o chefe do estado maior do exército paquistanês, Assim Munir; e Earl “Buddy” Carter, um parlamentar norte-americano. Ele foi indicado pelos três ao Prêmio Nobel da Paz, especialmente em “reconhecimento a sua busca pela paz e segurança no Oriente Médio”, finalmente conseguidas após atacar, com 14 bombas, duas possíveis instalações nucleares iranianas.
Seu ex-secretário, e atual inimigo, Elon Musk, também está incluído na lista dos possíveis agraciados, “por seu compromisso consistente com o direito à liberdade de expressão e, portanto, à paz”. Seu nome foi indicado pelo membro do parlamento europeu pela Eslovênia, Branko Grims, defensor da remigração ou simplesmente retorno forçado de imigrantes (normalmente não brancos) aos seus locais de origem. Faz sentido.
(*) Segundo o ex-ministro Paulo Guedes, são 60 mil pessoas, cujos rendimentos atingiram R$ 300 bilhões em 2022.
Jairo Pitolé Sant’Ana é jornalista