A vida é uma soma de experiências. O passado é parte inseparável de quem somos; rejeitar a própria história é, de certo modo, rejeitar a própria existência. Quem a nega acaba vivendo várias vidas como eterno aprendiz de si mesmo.
No caminho, surgem os marcadores de passos: momentos que indicam avanço ou estagnação. Há quem caminhe sem constância nos desejos, alimentando nostalgias e flertando com a depressão. Em meio a forças que subjugam o ego, distorcem fatos e justificam erros, tornam-se mestres em desculpas: “Agi assim por causa disso… Fiz aquilo por causa daquilo…”. Mas, mais cedo ou mais tarde, todos descobrem que não temos poder sobre os acontecimentos do mundo — apenas sobre a forma de reagir a eles.
Recordo uma cena cotidiana: uma senhora de alto poder aquisitivo entra numa loja elegante. Experimenta um vestido, depois outro e mais outro. Veste todos que encontra. Nenhum lhe agrada. Sai de mãos vazias, murmurando: “Já não fazem mais vestidos como antigamente” ou “Meu padrão está muito superior”. O dinheiro lhe dá opções, mas não a simplicidade de escolher. A satisfação do consumo é transitória; quando a realização não vem de dentro, instala-se um vazio que nem o luxo preenche. Daí para buscar alegrias artificiais, é um passo — e, às vezes, o início da doença da alma.
As influências externas costumam ser mais fortes que as internas. Por isso, é preciso proteger os caminhos espirituais, fortalecer a vida com fé e pensamentos firmes, guiados por objetivos de evolução. Caso contrário, decisões se perdem, amizades se rompem, e muitas vezes olhamos para trás e percebemos: companheiros de viagem se afastaram por nossa falta de cuidado ou por atos impensados.
É difícil conviver com quem não acredita em sonhos. Essas pessoas tentam impor o vazio de suas vidas sobre os sonhos dos outros. Simplificar a existência é uma defesa: quem vive com leveza não se deixa aprisionar pelas meias verdades do pragmatismo. Mesmo a paciência exige o impulso do sonhar.
Quantas vezes os pneus de nossos sonhos já estouraram e se transformaram em pedacinhos? Sem estepe, seguimos assim mesmo, cumprindo acordos celestiais, insistindo naquilo que chamamos de felicidade. Afinal, o tempo não espera quem fica parado, pedindo carona no espetáculo da vida.
Wilson Carlos Soares Fuáh é pensador e escritor, graduado em Ciências Econômicas e especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas.
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