A frota de veículos em Cuiabá e Várzea Grande chegou a cerca de 740 mil unidades em outubro passado. Essa informação, segundo o Detran-MT, sugere que, considerando os habitantes das duas cidades, 76,7% possuem um carro ou uma moto.
Num exercício de imaginação, relacione, agora, essa quantidade de veículos trafegando sob chuvas intensas na região metropolitana neste novembro e no subsequente dezembro, provavelmente o tempo chuvoso se estendendo até março e abril de 2026.
Depois, junte a essas já complicadas situações de fluxo nas cidades mais um componente, que são as ruas e avenidas da capital recebendo obras de implantação do BRT (Bus Rapid Transit), de readequação e melhoria viária, além de intervenções da Águas Cuiabá, o que impacta o tráfego local.
Pronto! O resultado antecipa a chegada, em breve, de confusão extrema no trânsito, em especial da capital, o que obrigará o cidadão a escapar dela por conta própria.
Tudo sinaliza a necessidade de preparação para um aumento de dificuldades – engarrafamento, trânsito lento, bloqueios etc., exatamente por conta da combinação frota + chuvas + obras em ruas e avenidas. Ao cidadão pede-se ‘paciência’, como aconselhou o secretário da Sinfra, Marcelo Oliveira, tempos atrás.
Recentemente, a titular da Semob-Cuiabá, Francyanne Lacerda, em entrevista ao RDNews, declarou que a capital vive ‘um momento ímpar’ no trânsito. Ela reconheceu que o número de 170 agentes de trânsito (amarelinhos) é pouco para atuar na capital, mas disse que a conjugação de esforços com as demais unidades ajuda.
Dados de outubro último registram uma frota de 523.174 veículos para Cuiabá, dos quais 242.025 são automóveis, 113.154 motocicletas e 34.473 motonetas. Nesse total registram-se ainda 52.581 caminhonetes e 4.866 ônibus. Para Várzea Grande, a frota é de 219.575 veículos, sendo 91.817 automóveis, 57.319 motocicletas e 21.169 motonetas.
Em conversa com a coluna, o especialista em Transporte e Logística Eldemir Pereira disse que o grande volume de tráfego de veículos automotores na área metropolitana de Cuiabá e Várzea Grande, associado à temporada de chuvas e às atuais intervenções nas ruas e avenidas da capital, afeta, sim, a mobilidade urbana.
“Isso inevitavelmente ocorre nas principais cidades de médio e grande portes em ocasiões nas quais se encontram períodos chuvosos e intervenções físicas em locais críticos do sistema viário”, disse. No caso de Cuiabá, ele citou a avenida Rubens de Mendonça (av. do CPA) e a Avenida Miguel Sutil como áreas em que poderão se verificar congestionamentos e lentidão no tráfego, prejudicando, sobremaneira, o deslocamento urbano.
A perturbação com a mobilidade atinge o passageiro do ônibus, o usuário de carro de aplicativo e o condutor do automóvel particular, além dos motociclistas. Nas ruas de Cuiabá nota-se que o aumento de veículos no trânsito vem gerando engarrafamentos inclusive em vias públicas que não têm obras acontecendo.
“Nos horários de pico não tem para onde correr”, lamentou o motorista Ricardo, que, para ir e voltar do trabalho, enfrenta o problemático trânsito no entorno das obras no Complexo Viário Jardim Leblon, na avenida Miguel Sutil.
Já em locais com obras que impactam diretamente o fluxo, uma nova frente de implantação do BRT foi anunciada para esta semana, desta vez na avenida XV de Novembro, na região do Porto. Na avenida do CPA, no trecho entre o Viaduto da Sefaz e o prédio da Defensoria Pública, estão programados serviços de drenagem, assim como concretagem de pistas em frente à Secretaria.
Intervenções na capital nas avenidas do CPA, Miguel Sutil, Isaac Póvoas, Prainha, XV de Novembro, bem como em ruas e travessas do entorno delas, trazem problemas e preocupações também aos comerciantes e empresários das áreas afetadas. Eles querem um cronograma das ações por parte da Sinfra para que possam planejar as atividades de fim de ano.
Pelo andar da carruagem, há ainda muitos serviços e transtornos nas vias públicas de Cuiabá pela frente. A previsão de liberação de outras etapas das obras em andamento é para fevereiro do próximo ano, se tudo correr bem.
A temporada de chuvas, já oficialmente aberta, está chegando forte este ano. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a previsão para Cuiabá é de temporais todos os dias nesta primeira semana de novembro.
Tudo indica, portanto, que o trânsito deve piorar nos meses que se avizinham. Sem medidas emergenciais capazes de atenuar o problema, só resta aos cuiabanos e aos várzea-grandenses exercitar a paciência e a tolerância para sobreviver nessa selva.
Sônia Zaramella é jornalista e professora aposentada do curso de Jornalismo da UFMT.

* A opinião do articulista não reflete necessariamente a opinião do PNB Online
Artigo publicado originalmente no Eh Fonte
























