Durante mais de duas horas de palestra custeada pelo Sistema Fecomércio-MT, por meio do Senac-MT (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial em Mato Grosso), o ex-ministro da Economia Paulo Guedes abordou a história da economia mundial, traçou comparações entre sistemas capitalistas e socialistas e defendeu o crescimento da direita conservadora, especialmente no Brasil e nos Estados Unidos e fez reiteradas críticas à França.
Para um público formado por empresários, comerciantes e políticos integrantes do movimento bolsonarista de extrema-direita, como o prefeito eleito em Cuiabá, Abílio Brunini, a prefeita eleita de Várzea Grande, Flávia Moretti, e o deputado federal José Medeiros, todos o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, o economista ainda comentou sobre as urnas eletrônicas auditáveis, como forma de conter o extremismo político.
“Democracia não é saci-pererê”
Guedes criticou o que ele considera como falta de respeito às ideias conservadoras, comparando a visão unilateral da política à figura do saci-pererê.
“A democracia não pode ser um sacizinho que só pula com a perninha esquerda. Existem conservadores com valores, princípios e direitos que devem ser respeitados. É a vez deles agora. Dá licença para o cara governar, senão só cresce a onda de injustiça”.
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Críticas à França e exaltação de Trump
O ex-ministro também reiterou críticas ao papel da França no cenário global, mencionando sua perda de relevância comercial em comparação com países como China e Índia. “Vocês (franceses) estão ficando irrelevantes para nós. Enquanto a China e a Índia crescem, a França fica presa no passado, tentando taxar empresas como Amazon e Tesla”, afirmou.
Em contrapartida, Guedes elogiou Donald Trump, agora presidente eleito dos Estados Unidos, como um líder com capacidade de negociar soluções para conflitos como a guerra na Ucrânia. “Trump é um homem de negócios, um negociador nato, que tem força política e moral para resolver essas questões.”
Conservadorismo como resposta à crise econômica
Na análise do ex-ministro o crescimento do conservadorismo, observado em diversos países, é uma reação natural: “Quando a velocidade das mudanças é grande demais, a humanidade recua dois ou três passos. O pai tinha emprego estável a vida toda, mas o filho não consegue trabalho. Isso gera uma reação conservadora, um movimento de autopreservação e busca por liberdade.”
Ele também defendeu uma aliança entre liberais e conservadores como uma alternativa ao que chamou de “caminho para a miséria promovido pelos socialistas”.
Segundo Guedes, a América Latina perdeu seu dinamismo econômico por resistir a abrir suas economias, enquanto países asiáticos prosperaram ao adotar políticas de mercado.
Reconfiguração econômica e a posição do Brasil
O ex-ministro também abordou a reconfiguração das cadeias produtivas globais, destacando três grandes blocos econômicos emergentes: o NAFTA (Estados Unidos, Canadá e México), o bloco liderado pela China e um terceiro grupo ainda em formação, onde o Brasil desempenha papel estratégico.
Guedes enfatizou a força do agronegócio brasileiro e sua importância para a segurança alimentar mundial. “O Brasil é parte da segurança alimentar e energética do mundo. Estamos vendo uma revolução no agro, com o digital entrando na produção e elevando a produtividade. Temos uma janela de oportunidade extraordinária”, afirmou.
Polarização política e alertas para o futuro
Com críticas à esquerda, Guedes comentou sobre a polarização e o impacto das redes sociais. “Esse negócio de cultura identitária está afastando as pessoas. Democracia e liberdade não são isso. Gostam de Cuba, Venezuela, Rússia e China, mas isso não é democracia.”
O ex-ministro ainda defendeu urnas eletrônicas auditáveis. “Faz isso aí pra não ter mais discussão, confusão, não ter nada. Não ter dúvida. Você está duvidando de alguma coisa? Eu não, você está doido? Não estou duvidando de nada, só quero que baixe o barulho. É um investimento barato pra fazer a coisa certa”.
“Chapa tá quente”
Para finalizar a palestra, sem citar o atual contexto político que envolve o indiciamento do ex-presidente Bolsonaro pela Polícia Federal, Guedes apenas pediu resiliência aos presentes.
“Então, queria deixar essa mensagem para vocês e vamos em frente para a palavra-chave para o período à frente: resiliência, tá? Eu sei que está quente, chapa está quente. Resiliência. Obrigado.”