O Palácio Paiaguás, sede do Poder Executivo de Mato Grosso, está completando 50 anos. O prédio foi inaugurado no dia 28 de fevereiro de 1975, nos últimos dias de gestão do governador José Fragelli, que foi o responsável por implantar o projeto do Centro Político Administrativo, retirando as repartições públicas do centro de Cuiabá para uma nova área, contribuindo também para a expansão urbana da capital.
Edição do jornal O Estado de Mato Grosso daquele dia trazia na capa a informação da inauguração, com destaque para a distância do novo complexo para a área central de Cuiabá.
“Em solenidade a ser realizada hoje às 9 horas, o governador José Fragelli inaugura o Palácio Paiaguás, que será a nova sede do Governo do Estado e a unidade principal do Centro Político Administrativo, a três quilômetros da área central de Cuiabá, na direção de Chapada dos Guimarães, de onde passará a despachar a partir da próxima segunda-feira”.
A solenidade ocorreu com o hasteamento da bandeira do Brasil e, em seguida, o descerramento de uma placa comemorativa. Depois foram lidos dois decretos: um que transferia a sede do governo do Estado do Palácio Alencastro (atual sede da Prefeitura de Cuiabá) para o novo prédio; e outro que dava o nome de Palácio Paiaguás ao local. No entanto, o que poucos sabem é que o nome sugerido para o prédio, pelo arquiteto que o idealizou, era outro.
Quem conta a história é o arquiteto Moacyr de Freitas, que teve a ideia e projetou o Palácio Paiaguás e o Centro Político Administrativo em Cuiabá. Em um artigo publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, em 2003, Moacyr de Freitas relembra esse momento histórico.
“Imaginei um Centro Político para Mato Grosso, para nele concentrar todos os órgãos públicos. O centro da cidade estava numa situação precária e piorava cada vez mais. Havia no mesmo centro histórico o comércio, o governo municipal e o estadual, um conflito comprometedor”.
Mais adiante, Moacyr aponta como ele imaginava que seria a cidade no futuro. “Colocaria as coisas nos seus devidos lugares e, aos poucos, veríamos uma cidade deixar sua primeira fase de existência, a cidadezinha, cujas casas rodeiam a tradicional ‘praça da matriz’. Estava na hora de mostrar a ela seu novo rumo como cidade capital, seu perpétuo destino”.
A ideia do Centro Político foi apresentada por Moacyr ao engenheiro Sátyro Pohl Moreira de Castilho, que assumiria a diretoria do Departamento de Obras. Foi Sátiro quem convenceu o governador José Fragelli a levar adiante o projeto. “Revelo minha satisfação daquele dia em que recebi a notícia do amigo Castilho retornando do Palácio do Governo Estadual. Ele apresentou ao governador a minha ideia do Centro Político. Este a acatou e quis realizá-la, mesmo porque suplantaria aquelas obras do governo anterior”.

“Passei então a esquematizar sem perda de tempo e com muito carinho a localização daquele centro. Após um pré-estudo partimos, Castilho e eu, para a região indicada no estudo. Tudo parecia coincidir com o que prevíamos; até mesmo uma plataforma lá encontramos, por pura coincidência. Eu já imaginava ali o novo palácio! (…) Previ as avenidas monumentais, a praça cívica, os lagos… Preparei um desenho onde tinha ideia para o topo do morrinho da Conceição (hoje, ali está a parabólica que rastreia satélites) para ali ficarem as torres da central de TV e rádio”, conta Moacyr de Freitas em seu artigo.
Em março de 1972 foi criado o grupo de trabalho do CPA, coordenado pelo engenheiro Sátyro de Castilho e com os projetos desenvolvidos pelos arquitetos José Antônio Lemos, Júlio De Lamônica Freire, Manuel Perez, Sérgio de Moraes, Antônio Rodrigues Carvalho, Antônio Carlos Carpintero e Moacyr Freitas. A área foi escolhida e foi planejado como seriam os complexos de prédios e de ruas e avenidas do Centro Político, com a ideia de uma via expressa de maior fluxo e vias menores, internas, para acesso aos prédios públicos. A via maior é a atual avenida Historiador Rubens de Mendonça, que ficou conhecida como Avenida do CPA.

Palácio Amazônia
As obras da nova sede do Governo começaram em 1973. “Imaginava uma denominação para o novo palácio ‘Palácio Amazônia’. Não aconteceu assim porque ninguém me ouviu; deram o nome de ‘Palácio Paiaguás’, nação indígena que tanto dificultou a ocupação e desenvolvimento deste solo; por outro lado, eles estiveram guerreando os invasores dos seus domínios; vá lá que seja por isso aquele nome”, observou Moacyr de Freitas.
Reportagem de jornal da época tratava a inauguração como um dia para entrar para a história, o que de fato ocorreu, conforme reproduzimos um trecho abaixo:
“O dia de hoje inscrever-se-á na História de Mato Grosso como um dos mais importantes marcos na senda do desenvolvimento. Desde o velho Alencastro, que deu lugar àquele iniciado no governo João Ponce de Arruda e terminado pelo governador Fernando Corrêa da Costa, chegamos ao portentoso conjunto arquitetônico que consubstanciará o Centro Político Administrativo, hoje sendo inaugurado em sua fase inicial, com a entrega da nova sede do Governo, o Palácio dos Despachos”, diz trecho de matéria da capa do jornal do dia 28 de fevereiro de 1975.
A reportagem dizia ainda que a inauguração do novo palácio era a “culminância de uma profícua administração comandada pelo governador José Manoel Fontanillas Fragelli”. O governador, no ato de inauguração do Palácio Paiaguás, disse que o CPA era “a expressão da nova realidade mato-grossense, das energias da sua terra e da sua gente, contidas em dois séculos e meio e que agora se desatam para se materializar neste símbolo concreto de força, de confiança, persistência e de afirmação”.

Desde sua inauguração, o Palácio Paiaguás já recebeu 15 governadores de Mato Grosso. São eles:
José Fragelli
José Garcia Neto
Cássio Leite de Barros
Frederico Campos
Júlio Campos
Wilmar Peres de Faria
Carlos Bezerra
Edison de Oliveira
Jayme Campos
Dante de Oliveira
Rogério Salles
Blairo Maggi
Silval Barbosa
Pedro Taques
Mauro Mendes
Painel Bovinocultura
Uma das características mais marcantes do Palácio Paiaguás é sua fachada com o mural Bovinocultura, do artista plástico Humberto Espíndola. Com mármore, concreto, granito e tinta epóxi, Espíndola criou uma identidade para o prédio e homenageou uma das forças propulsoras da economia local, a pecuária.
O painel Bovinocultura e o Palácio Paiaguás são tombados e fazem parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso.