
Os depoimentos de três cineastas brasileiras sobre a temática do cinema autobiográfico foi tema de um artigo assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e publicado recentemente pela revista científica Contribuciones a Las Ciencias Sociales (CLCS). A pesquisa tem como base o podcast do Projeto Speculum desenvolvido na Universidade da Beira Interior (UBI), com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de Portugal.
O trabalho foi conduzido pelas doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (PPGECCO/UFMT) Priscila Lima Freitas e Julia Gabriella Nogueira Munhoz, pelo professor e pesquisador Pedro Pinto de Oliveira, que além do PPGECCO também compõe o quadro docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM/UFMT).
O estudo, intitulado “Arte e feminismo: a escrita de si no cinema autobiográfico”, lança luz sobre o papel do cinema autobiográfico no contexto da cultura contemporânea, focando em perspectivas apresentadas pelas cineastas Maria Thereza Azevedo, Isabela Ferreira e Lilian Solá Santiago, em entrevistas exploram como o cinema pessoal se torna uma forma de expressão e ativismo político e cultural.
“Nas entrevistas, elas falam das experiências de filmar-se e ver-se e sobre como situar essa forma de apreensão cinematográfica no contexto da cultura contemporânea. As documentaristas também dialogam sobre como assumiram a escrita de si, a narração de suas histórias, também por conta dos reconhecidos obstáculos à entrada da mulher no mundo da realização e produção cinematográficas de ficção”, explicam os pesquisadores.
Em um dos trechos dos depoimentos destacados pelos autores, a cineasta Isabela Ferreira afirma acreditar que as produções cinematográficas feitas por mulheres possuem uma diferença singular, capaz de revolucionar por meio da identificação. “Eu fiz um documentário sobre a Maria Taquara, que foi uma mulher negra. Então, é uma figura histórica, típica de Mato Grosso, de Cuiabá. (…) Eu comecei a me identificar com a história de outras mulheres, assim como a Justina, que é uma líder quilombola que lutou tanto para ter ali uma demarcação de terra. Então são histórias de mulheres que, assim como eu, são negras e são líderes no seu próprio território. (…) Eu trago nessas realizações e para que outras mulheres, assim como eu, possam se identificar também”.
A pesquisa fundamentou-se em diversas teorias de importantes nomes do campo da Comunicação, Filosofia e Sociologia. O estudo inclui a ideia relacional de comunicação de Vera França, a teoria crítica de valores de John Dewey, a noção de enquadramento de Erving Goffman, noções de feminismo de Judith Butler e Angela Davis, bem como os conceitos de cinema trazidos pelas cineastas entrevistadas. O artigo completo pode ser lido neste link.

























