Desde outubro deste ano os escritórios regionais de Saúde de Mato Grosso solicitam ao secretário de Saúde, Gilberto Figueiredo, a contratação de mais de 190 profissionais para suprir o déficit de servidores das unidades. É o que mostram documentos obtidos pela reportagem do PNB Online.
A gestão da saúde em nível regional enfrenta uma crise de recursos humanos, conforme demonstrado em documentos internos que detalham a necessidade urgente de reposição e adequação do quadro de servidores. Cinco Escritórios Regionais de Saúde (ERS) concentram grande parte do déficit, somando mais de 197 vagas críticas.
O cenário mais alarmante é o da Baixada Cuiabana, que reporta um déficit total de 69 servidores, e solicitou 66 profissionais para atuar nas áreas de Atenção à Saúde, Vigilância em Saúde, Regulação e CIES, com o objetivo de fortalecer as ações de saúde na região.
Outros ERS também evidenciam necessidades imediatas que comprometem o apoio aos municípios de suas respectivas regiões: Água Boa (Médio Araguaia – Estrato I): Solicitou 36 profissionais; Sinop (Teles Pires – Estrato III): Reporta necessidade urgente de 35 profissionais; Diamantino (Centro Norte Mato-grossense – Estrato I): Solicitou 35 profissionais e Colíder (Norte Mato-grossense – Estrato I): Solicitou 22 profissionais.
Regulação
De acordo com os documentos, a urgência é amplificada pela complexidade dos serviços que dependem desses novos profissionais, especialmente nas áreas de Regulação e Controle e Avaliação.
O ERS de Sinop, por exemplo, justifica seu pedido de 35 servidores pela sua função como Central de Regulação de Urgência e Emergência (CRUE) para toda a Macrorregião Norte, que abrange 5 regiões de saúde e 35 municípios. A unidade solicita, de forma urgente, 10 Médicos Reguladores e 4 Médicos Supervisores para essa função crítica.
Segundo os diretores dos escritórios, a ausência desses profissionais impacta diretamente na capacidade de monitorar os contratos de serviços hospitalares e na instrução de pagamento dos relatórios mensais, essenciais para a manutenção dos serviços hospitalares.
Uma das áreas com déficit é a de médico regulador, considerado essencial para o serviço realizado nos escritórios regionais. O Médico Regulador, nessas unidades, é responsável por avaliar as solicitações de internação de urgência e emergência, verificar a disponibilidade de vagas em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e enfermarias, e autorizar transferências, incluindo transporte aéreo.
Necessidade de especialistas
Os documentos detalham a busca por um leque extenso de profissionais de nível superior, indicando a necessidade de equipes multidisciplinares completas para apoiar os municípios.
As solicitações incluem Profissionais de Vigilância em Saúde, Enfermeiros (para monitorar doenças compulsórias, sistemas de informação e surtos), Farmacêuticos (para Assistência Farmacêutica, logística e controle de insumos estratégicos), Engenheiros Sanitaristas (para avaliar riscos ambientais, saneamento, resíduos e poluição), Biomédicos (para análise de dados laboratoriais e epidemiológicos), Biólogos (solicitado em Sinop), Psicólogos (para suporte às equipes de Atenção Primária, Saúde Mental e Vigilância Epidemiológica, atuando em temas como prevenção do suicídio e enfrentamento de crises), Fisioterapeutas (para coordenar a Rede de Cuidados a Pacientes Deficientes e atuar na Saúde do Trabalhador, com foco em ergonomia e prevenção de agravos musculoesqueléticos), Nutricionistas (para suporte nutricional na Atenção Primária e promoção da saúde) Assistentes Sociais (cruciais na Regulação, atuando como elo entre o SUS e a rede de assistência social, especialmente em Tratamento Fora de Domicílio – TFD), Contadores (para apoiar a gestão de recursos, analisar prestação de contas de cofinanciamento estadual e monitorar convênios, como o PAICI), Estatísticos (para garantir a confiabilidade dos dados em sistemas hospitalares como SIH/SUS e SISREG, e desenvolver painéis de desempenho), Analistas de Sistemas/Administradores de Banco de Dados (para gerenciar sistemas como SCNES, SIHD e SISAGUA, e garantir a conformidade com a LGPD), Técnicos em Assuntos Culturais e Educacionais (Pedagogo e Letras) e Técnico em Comunicação Social (Jornalismo e Marketing).
Todas dessas áreas foram contempladas pelo concurso público realizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) em 2024, onde milhares de aprovados aguardam chamamento. O Governo Estadual, no entanto, prefere a realização de processos seletivos e a contratação de temporários, sob o argumento de que o chamamento de profissionais concursados ocasionaria problemas nas contas públicas do Estado.
