Chegamos ao fim de 2025 assustados, tristes e pessimistas. A maioria acredita que nunca na história do Mundo houve, tudo junto e misturado, tantas tragédias em áreas essenciais à qualidade de vida. O inventário de problemas é longo – e real. Nesse cenário, uma verdade incômoda precisa ser dita: nossa percepção cotidiana é pior do que a realidade. Não por ingenuidade, mas por instinto. O cérebro reage com mais força ao que ameaça; a economia da atenção transforma esse reflexo em negócio; as redes elevam ruído a espetáculo. Resultado: vivemos sob lentes que ampliam o feio e encolhem o que funciona.
Entre alarmes, esquecemos que civilizações evoluem por acúmulos, não por milagres. Houve retrocessos e dores recentes, mas também avanços concretos em ciência, saúde pública, educação, tecnologia limpa, proteção social, meio ambiente e respeito à diversidade. A história mostra que grandes crises trazem soluções criativas, antes impensáveis. Cabe o equilíbrio do entendimento: sem negar o que vai mal, reconhecer o que dá certo para multiplicá-lo.
Como fazer isso em 2026? Primeiro, saneando a informação. Opinião é livre; fato é obrigatório. Escola, ciência e imprensa devem recuperar centralidade, enquanto plataformas digitais assumem comprometimento na proporção do poder que exercem. Liberdade de expressão exige responsabilidade de expressão. Viralizar mentira custa barato; consertar seus estragos é caríssimo – em dinheiro e até vidas. A pandemia da Covid-19 ensinou isso.
Segundo, fortalecer instituições. Democracia é regime de freios e contrapesos, não de torcidas radicais. A crítica é vital quando qualifica; é veneno quando deslegitima. O caminho para melhorar serviços públicos não está em demolir regras, mas em fazê-las funcionar com transparência, avaliação e metas. Governar exige humildade intelectual: medir, ouvir, corrigir equívocos. Por isso, a mídia fiscaliza, denuncia, cobra punições. Ela existe para governados, não para governantes.
Terceiro, focar o essencial. Países que deram saltos sustentáveis escolheram prioridades óbvias e persistiram nelas: primeira infância; escola com tempo integral, bons livros e professor valorizado; atenção total à saúde; segurança cidadã baseada em dados; apoio à cultura; preservação ambiental como projeto de desenvolvimento, não apêndice. Nada disso, por ser obrigação do governante, rende manchete diária. Rende futuro.
E há o papel de cada um. Antes de compartilhar, checar. Antes de ofender, argumentar. Antes de desistir, cobrar. Votar é ato; vigiar, dever contínuo. Empresas podem lucrar fazendo a coisa certa. Universidades devem participar mais. A sociedade civil precisa ocupar o centro do tabuleiro. Sonho que não se organiza vira mera autoajuda.
Não proponho otimismo bobo, e sim coragem metodológica. O mundo não é um paraíso nem um apocalipse, é um canteiro de obras. Quem só vê escombros desiste; quem só vê vitórias se engana. Que a balança pese a favor do trabalho ético, responsável e pelo coletivo, da verdade verificável e do respeito às diferenças. Entraremos em 2026 com problemas graves, sim. Mas também com ferramentas para enfrentá-los.
Esperança não é esperar. É decidir, todos os dias, que o próximo passo será maior que o medo. Coragem já!
Ricardo Viveiros é jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura (UPM); membro da Academia Paulista de Educação (APE); autor, entre outros livros, de A vila que descobriu o Brasil, Justiça seja feita e Memórias de um tempo obscuro.

* A opinião do articulista não reflete necessariamente a opinião do PNB Online

























