Assisti, semana passada, ao filme O Agente Secreto e, para evitar spoiler, vou dizer o mínimo: Duas horas e 40 minutos se passaram num piscar de olhos (o local ajudou. Foi no Cine Passeio, de Curitiba, com apenas 90 lugares. Comparando: o Cine Teatro Cuiabá conta com 500. Outro por mim lembrado, o Cine Festival de Juiz de Fora, que frequentei por uns bons anos, quando por lá trabalhei e estudei, tinha 105).
Valeu a espera. No filme, o Brasil de 1977 parece uma cópia antecipada do período 2017-(8 de janeiro) 2023, quando tentaram dar continuidade, mas, ainda bem, não se entenderam. Agora cumprem suas laicas penitências. Hoje é o ontem continuado. Racismo, misoginia, preconceito geopolítico e muita hipocrisia. O Sudeste, leia-se São Paulo, é lembrado como a locomotiva da economia nacional, enquanto o Nordeste, como a indolência e a mão de obra barata.
A trajetória, de prêmios e bilheteria, de “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de melhor filme deste ano, é quase seguida por “O Agente Secreto”. O primeiro faturou R$ 105 milhões no Brasil (200 milhões no faturamento global) em 147 dias (média diária de R$ 715 mil) e o segundo R$ 18,7 milhões em 18 dias (R$ 1,038 milhão diários). A distância no quesito espectadores, no entanto, ainda é alta. 37,5 mil diários contra 12,5 mil.
Antes que se diga: “ah! Também, né? Mamando na Lei Rouanet”, é importante esclarecer. Primeiro, Walter Salles está entre os 11 dos 69 bilionários do país e Kleber Mendonça é globalmente bem articulado. Seus filmes têm parcerias de produtoras estrangeiras, especialmente francesas. Finalmente… a Lei Rouanet é uma espécie de mecenato (Mecenas foi um conselheiro romano, patrono de poetas e escritores). Funciona, quando empresas e pessoas físicas direcionam parte de seu Imposto de Renda para projetos culturais aprovados pelo Ministério da Cultura. É uma renúncia fiscal, como a usufruída por dezenas de milhares de empresas em âmbito federal, estadual e municipal. São concedidas em troca de geração empregos, embora, dizem, muitas não cumpram o compromisso.
Já mercado de entretenimento geralmente gera muitos empregos. Filmes como O Agente Secreto ou Ainda Estou Aqui podem empregar centenas de pessoas diretamente envolvidas (atores, diretores, produtores, roteiristas, etc.) antes, durante e depois de sua realização e milhares indiretamente, como suporte (alimentação, transporte, acomodação, segurança, limpeza), fornecedores locais (aluguel de equipamentos, entre outros), trabalhadores temporários e figurantes, além da atração de turistas, beneficiando restaurantes e lojas, principalmente.
Resumindo: uma ida ao cinema ou ao teatro; uma visita ao museu ou à biblioteca ou assistir a uma partida de futebol, basquete ou vôlei libera dopamina tanto de quem se diverte como de quem trabalha para garantir a diversão. Carpe diem!
