
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), usou sua participação na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA), para atacar indígenas, ONGs ambientalistas e dados oficiais do governo federal sobre desmatamento. Em entrevista à Jovem Pan nesta segunda-feira (10.11), momentos antes de sua fala oficial no pavilhão da Amazônia Legal, Mendes afirmou que interesses estrangeiros e entidades ambientalistas “contratam índio e ONG para falar mal do Brasil” e que o meio ambiente é usado “não para protegê-lo, mas para prejudicar o país”.
“Tem alguém fora do Brasil que não quer que a nossa logística melhore, e aí contrata ONG, contrata índio, contrata alguém para falar mal daquilo que o mundo inteiro faz. Mas no Brasil, se fizer, vai destruir o planeta. Isso tem que acabar”, disse o governador. Mendes criticou ainda o bloqueio judicial que impede o asfaltamento da BR-158, rodovia federal que corta terras indígenas no Araguaia. Segundo ele, ONGs teriam “convencido os índios” de que a obra traria prejuízos ambientais. “Ali morre gente, traz sofrimento. Nós precisamos criar infraestrutura que só traz qualidade de vida, inclusive para os índios”, declarou.
Durante a entrevista, o governador também rebateu dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que indicam aumento de 25,06% no desmatamento em Mato Grosso em 2025, único estado da Amazônia Legal a registrar alta. Ele afirmou que houve “mudança de metodologia” e que as estatísticas misturam queimadas com desmatamento. “O produtor não quer queimar nada. Seria como dizer que o dono da loja botou fogo no estoque. Houve uma alteração do bioma com uma queimada que muitas vezes começa dentro de terra indígena”, afirmou.
Segundo dados oficiais divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pelo Ministério do Meio Ambiente, a área desmatada na Amazônia caiu 11,08% em 2025, chegando a 5.796 km², o menor índice dos últimos 11 anos. Oito dos nove estados da Amazônia Legal registraram queda, com destaque para Tocantins (-62,5%), Amapá (-48,1%) e Roraima (-37,4%). Mato Grosso foi a única exceção.
Mendes também defendeu que o Brasil e os estados amazônicos deveriam ser reconhecidos por manter grandes áreas preservadas. “Nós temos 60% do nosso território preservado. Ninguém do planeta tem isso. Os gringos falam mal da gente, mas a preservação deles é muito menor do que a nossa”, disse. Segundo o governador, o Brasil deveria ter “mais patriotismo” e “defender mais o país”, em vez de seguir o que chamou de “hipocrisia ambiental internacional”.
Em seu discurso oficial na COP30, Mendes manteve o tom. Cobrou o cumprimento das promessas feitas por países ricos de financiar ações de preservação e criticou o anúncio recente de R$ 5,5 bilhões em fundos climáticos. “Cadê os R$ 100 bilhões prometidos há mais de 30 anos? Precisamos ser respeitados como país do agronegócio, das florestas e da biodiversidade. Eles precisam pagar, e não com migalhas”, disse.
“Entrave para o desenvolvimento”
O governador também apontou a demora na liberação de licenças ambientais como entrave ao desenvolvimento. Citou a espera de 15 anos pelo licenciamento do projeto de potássio no Amazonas e defendeu a construção da Ferrogrão, ferrovia que ligaria Sinop (MT) a Itaituba (PA), mas que enfrenta questionamentos por afetar terras indígenas e comunidades locais. “Enquanto os caminhões queimam diesel, a gente espera. Atentado é a mentira que eles contam há décadas”, afirmou.
O painel dos governadores da Amazônia Legal na COP30 contou também com a participação de Helder Barbalho (PA), Wilson Lima (AM), Carlos Brandão (MA) e Clécio Luís (AP).






















