Um estudo conduzido pelo pesquisador e professor da Escola Superior de Educação do Politécnico de Coimbra, Gil Batista Ferreira, indica que as redes sociais têm intensificado a polarização política entre jovens eleitores em Portugal. A pesquisa foi realizada durante as eleições legislativas de 2024 e analisou, de forma inédita, a geração que teve seu primeiro contato com a política quase exclusivamente por meio das plataformas digitais.
Segundo Ferreira, os resultados mostram que jovens com atitudes classificadas como populistas apresentaram níveis mais elevados de “polarização afetiva”, termo que descreve a hostilidade emocional direcionada a quem pensa de maneira diferente. “Não estamos apenas perante opiniões distintas, mas diante de jovens que demonstram hostilidade superior contra quem diverge”, afirmou o pesquisador em entrevista à emissora portuguesa SIC Notícias.
O estudo identificou que as plataformas mais usadas para obter informações políticas foram o X (antigo Twitter) e o Instagram. O TikTok, embora em alta entre os jovens, não apareceu como canal de busca de conteúdo político. As redes, contudo, não se mostraram neutras: no X, os pesquisadores encontraram maior radicalização e hostilidade, enquanto no Instagram os usuários demonstraram menos confronto direto, mas uma identidade política mais marcada.

Ferreira destacou que os resultados exigem atenção não apenas do Estado, mas de toda a sociedade. O pesquisador aponta três caminhos de intervenção: o investimento em literacia midiática, especialmente entre os mais jovens; a exigência de maior transparência e regulação sobre os algoritmos das plataformas; e o fortalecimento de espaços públicos de debate baseados em informação factual e respeito mútuo.
“São estas gerações que vão definir o futuro da democracia. A relação fortíssima que já têm com as redes sociais mostra a importância de construirmos uma cidadania diferente para o futuro”, disse Ferreira.