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VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL

Vítima é agredida por policiais ao tentar denunciar violência doméstica

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J.C., de 48 anos, mora sozinha em uma casa simples, na periferia de Cuiabá. Sua única companhia atualmente é o medo. O medo passou a fazer parte da rotina desde que ela decidiu denunciar o ex-marido por agressão e perseguição. Ao tentar se proteger denunciando o suspeito, ela acabou se tornando vítima novamente por conta de uma série de violências que teriam sido cometidas por delegados e policiais civis da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso.

O caso, que está em apuração na Corregedoria, foi revelado à reportagem do PNB Online em entrevista exclusiva. A vítima afirma que foi agredida, humilhada e perseguida por um delegado e por policiais civis da Delegacia da Mulher do Planalto, em Cuiabá. Ela também conta episódios de constrangimentos que ocorreram em outra delegacia.

Delegado relativizou agressão

O primeiro episódio ocorreu ainda no ano passado, quando J.C. foi até a delegacia da Mulher, na avenida Carmindo de Campos, em Cuiabá, e ouviu de um delegado, identificado com as iniciais P.H., que ex-marido dela não deveria ser preso.

“Ah, mas ele é velho… ele é velho para aguentar cadeia”, teria dito o delegado. O episódio fez com que a vítima tivesse crises de choro na delegacia.

“Nunca esqueci essa frase. Quando ele falou isso, eu disse a ele: ‘então ele pode matar’”, contou a vítima à reportagem. O mesmo delegado, segundo a vítima, soltou o suspeito na primeira vez em que ele foi detido, quando ela havia prestado queixa.

“Algumas pessoas me falam que a minha situação é parecida com a situação da Maria da Penha porque eu sofri violência doméstica e violência institucional”, conta.

Suspeito foi solto sem vítima saber

A partir de então, segundo J.C., diversos fatos fizeram com que ela perdesse cada vez mais a fé na polícia. O segundo episódio de medo ocorreu após a segunda prisão do ex-marido, quando ele foi levado à penitenciária em Várzea Grande. Segundo a vítima, ele foi solto em uma quarta-feira, sem que ela soubesse.

Um oficial de Justiça a procurou em uma sexta-feira, no fim da tarde, solicitando que ela pegasse o botão do pânico, dois dias depois da soltura do suspeito.

“Eu falei: ‘Como que eu vou pegar se lá é só no horário comercial e é de segunda a sexta?’, ninguém me avisou, aí eu comecei a chorar”, contou.

Alguns amigos, com medo de que a vítima fosse atacada pelo ex-marido, acabaram decidindo esconder J.C. em outro lugar, após o agressor ter sido liberado.

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Vítima mostra foto com marcas de violência que ela teria sofrido dos policiais

Agressões e humilhações na Delegacia do Planalto

J.C. passou a procurar a delegacia do Planalto ao descobrir que o suspeito morava perto da delegacia da Carmindo de Campos. A procura pela delegacia ocorreu no dia 3 de outubro quando a vítima queria corrigir dados do boletim de ocorrência que ela havia registrado. Os policiais colocaram o nome do irmão do suspeito erroneamente no registro.

“Quando eu cheguei lá e mostrei para eles o erro, o delegado titular apontou quem errou, me disse para ficar tranquila, e pediu para fazerem outro BO”, conta a vítima.

O titular, no entanto, saiu do local, afirmando que resolveria problemas externos. A partir de então, os policiais procuraram outro delegado, identificado como J.H., que se recusou a corrigir o boletim.

“Ele falou assim: ‘Olha aqui, ninguém vai fazer isso aqui não. Se a senhora quiser, a senhora vai para outra delegacia, chega de reclamação, de gente vir aqui reclamar’. Ele foi falando já assim, meio agressivo. Aí nessa hora tinha dois homens, que eram policiais, que falaram: ‘Olha, o doutor já falou para fazer para ela’. Aí ele deu uma olhada para esses dois policiais, que foi horrível”, relata a vítima.

“Ele começou a se aproximar de mim e eu tentava explicar para ele que precisava do documento, e ele me disse: ‘O que é? A senhora está me chamando de antiético? Eu prendo a senhora aqui, agora’, ele olhava para os dois e gritava dizendo ‘Repete de novo aí, fala que eu sou antiético!’, e falava isso muito próximo de mim”, conta J.C.

Depois da discussão, segundo a vítima, ela foi orientada por dois policiais a ir embora do local, que prometeram que a levariam para casa. “Não esqueço dos dois anjos que me ajudaram naquele momento”, disse.

A vítima disse que, ao elogiar os dois policiais, o delegado deu voz de prisão a ela, incomodado com a gratidão da vítima aos colegas. Ela narra que duas policiais, a mando do delegado J.H., tentaram jogá-la em uma cela, mas desistiram ao descobrir que estava com o botão do pânico.

“Eu disse para eles que não era inimiga deles, estava tentando chamá-los à razão. Nessa hora eu disse que estava com botão do pânico e que todo mundo ia saber que eu estava lá e que eles estavam me maltratando”, conta. “Aí me colocaram dentro da brinquedoteca e foram me empurrando de qualquer jeito, chutavam a minha perna e eu fui pedindo pelo amor de Deus para não judiar de mim, para me deixarem ir embora”, contou.

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J.C. diz ter sofrido empurrões e chutes quando estava na delegacia do Planalto

Em seguida, conforme o relato, as policiais tentaram obrigá-la a tomar um calmante, que ela se recusou. Ela conta que passou por horas de terror entre 9 horas e 12 horas, na brinquedoteca, quando os policiais ameaçaram “colocar um flagrante” nela, no sentido de registrar uma falsa ocorrência contra a vítima.

“Eu senti medo porque se Deus não estivesse na minha vida eu tenho certeza que esse pessoal ia me matar porque ali fica fácil pegar alguém e sumir. Eles fecharam a porta lá e fizeram o que quiseram comigo, quiseram forçar eu a tomar o medicamento”, narrou a vítima.

Depois da confusão, J.C. foi levada à Perícia Técnica para fazer exame de corpo de delito e depois foi encaminhada à Delegacia da Mulher na avenida Carmindo de Campos.

“Quando falei lá, eles se importaram mais com o erro no BO do que com o que aconteceu comigo na delegacia do Planalto. Não se importaram com o que aconteceu”, disse a vítima. “Não me sinto mais segura em Cuiabá. Aí eu descobri porque Mato Grosso está com índices altos [de feminicídio] porque nestas andanças minhas, por todo lugar que eu passei, todo mundo tem uma história para contar sobre o que aconteceu lá dentro”, concluiu a vítima.

O que diz a Polícia Civil 

A assessoria de imprensa da Polícia Civil foi questionada pela reportagem sobre a denúncia e sobre a sensação de medo que a vítima registrou durante a entrevista.  Por meio de nota, foi informado apenas que foi aberto procedimento na Corregedoria para apurar o caso.

A Polícia Civil confirma que a Corregedoria-Geral da instituição recebeu a denúncia sobre uma suposta agressão praticada por policiais civis durante atendimento de uma ocorrência de violência doméstica em Cuiabá. 

Diante da comunicação, o órgão corregedor instaurou procedimento para apuração da denúncia e as investigações seguem em sigilo. A vítima foi ouvida sobre os fatos no dia 16 de outubro na Corregedoria, ocasião em que também foi solicitado exame de corpo de delito.

Em relação à violência doméstica sofrida pela vítima, existe medida protetiva em vigor, além de outras medidas cautelares diversas da prisão em desfavor do réu. As investigações seguem pela Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá.

Mais detalhes sobre os fatos não serão passados uma vez que as investigações do procedimento instaurado na Corregedoria-Geral e da situação de violência doméstica que tramita na Delegacia da Mulher seguem em sigilo.

 

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