
O evento de Comunicação Política, o COMPOL, realizado na última terça-feira (23/09), no teatro Zulmira Canavarros, reuniu marqueteiros nacionais e regionais em um dia inteiro de debates sobre os mais variados temas ligados à área. Um tema sensível e crucial tratado foi o “posicionamento da figura pública”. A trajetória do senador Wellington Fagundes (PL) é, sem dúvida, um case que merece o exame dos especialistas. De político de centro a linha de frente da extrema direita bolsonarista, Wellington fez uma aposta arriscada com vista a eleição de 2026.
Wellington Fagundes construiu uma carreira política vitoriosa em termos eleitorais, com sucessivos mandatos de deputado federal e com duas eleições de senador. Nunca venceu uma eleição de prefeito ou de governador, mas no âmbito do legislativo foi imbatível até agora. Conhecido como um político de centro, ele não brigava com ninguém, passando uma imagem de agregador e de construtor de soluções consensuais. De repente vestiu, como nenhum outro político da sua geração, o figurino apertado da extrema direita bolsonarista. Gasta muito tempo e faz muitos vídeos de elogios a Bolsonaro e ao seu clã, e não poupa críticas ao governo Lula e à esquerda.
Fagundes, empresário e médico veterinário, faz as contas deste posicionamento radical: acredita que soma o eleitorado do bolsonarista raiz sem perder votos no centro democrático. No caso de uma eleição para parlamento, este posicionamento pode até ser um negócio seguro, mas para uma eleição majoritária para o governo de Mato Grosso, pintar a sua imagem pública como um radical, que separa e estimula a polarização entre eleitores do “bem” contra eleitores do “mal”, pode ser um glorioso tiro no pé.
Wellington luta contra a sua biografia e luta contra os fatos, obrigado a mudar de opinião com a velocidade e temeridade que expõe qualquer figura pública na política, caso não seja uma autocrítica muito bem justificada junto à opinião pública. Mudar de ideia é possível, só quem não tolera isso é o extremismo sustentado pela ideia única.
O site Gazeta Digital registrou o embate entre o Wellington de ontem contra o Wellington de hoje:
Senador bolsonarista Wellignton Fagundes (PL), que antes vinha acenando ser favorável à PEC da Blindagem, usou a rede social para ‘comemorar’ que ela foi derrubada.
“Não vai ter impunidade. É isso que a sociedade quer. Todos devemos ser iguais perante a Justiça”, disse o senador.
Ele aproveitou ainda para dizer que a hora de “focar no que importa” e, segundo ele, é a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil – projeto do governo Lula.
Resumindo e baralhando, como diriam os portugueses: por mais que faça juras de amor e lealdade a Bolsonaro e seus filhos, boa parte dos bolsonaristas raiz ainda torce o nariz para ele. É menosprezado por essa turma radical da extrema direita, chamado pelo rótulo político depreciativo de “melancia” (talvez, um verde radical por fora e um vermelho democrático por dentro).
Ele foi obrigado a dar um cavalo-de- pau na sua opinião, antes a favor da PEC da Blindagem e agora contra, depois que a sociedade rejeitou a esperteza e o egoísmo dos deputados federais, que queriam ter imunidade total contra a ação do Poder Judiciário.
Nesta luta pessoal e ideológica entre Wellingtons não há resultado do tipo ganha-ganha.
*Pedro Pinto de Oliveira é jornalista e professor da UFMT. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e doutor em Comunicação pela UFMG.