
Nesta terça-feira (15.07), completa-se um ano do incêndio que destruiu o Shopping Popular de Cuiabá, um dos principais centros de comércio da capital de Mato Grosso. O fogo consumiu toda a estrutura durante mais de 24 horas e afetou diretamente cerca de 600 comerciantes. Desde então, os trabalhadores tentam reconstruir não apenas o espaço físico, mas também os laços com a clientela, o estoque e a estabilidade financeira.
Ao PNB Online, Laurinha Monteiro conta que com o epsódio, viu sua história que começou há três décadas virar cinzas. “Comecei ajudando minha mãe, quando ainda trabalhávamos debaixo de lona. A estrutura era precária, mas a gente foi construindo aos poucos. Quando vi tudo queimado no ano passado, não sabia por onde recomeçar”, conta.
Ela diz que perdeu todo o estoque e só conseguiu retomar as vendas porque os fornecedores com quem mantinha relação há anos aceitaram negociar crédito. “Ainda hoje estou pagando mercadoria que foi queimada. A loja está cheia, mas o bolso está vazio”, lamenta.

Segundo a comerciante, o movimento de clientes caiu muito após o incêndio. “O que está me sustentando são os clientes antigos. Eles me ligam, pedem, às vezes eu entrego em casa. E quando o que querem não é da minha loja, eu pego de colegas e levo”. Diante dos diversos desafios que enfrentou como comerciante ao longo dos anos, Monteiro conta que mesmo diante do incêndio, sempre soube que saberia recomeçar.
A situação é semelhante à vivida por Elizete Fernandes e seu esposo, Mauri Fernandes, que trabalham no local desde 1995. Para ela, a perda foi também emocional. “A gente viu o fogo tomando conta de tudo, sem poder fazer nada. Teve comerciante que adoeceu, que não conseguiu mais voltar. Ficamos cinco meses na rua, atendendo debaixo de tenda”, relembra.
O incêndio atingiu o prédio na madrugada de 15 de julho de 2024 e se estendeu por todo o dia seguinte. O local era considerado um dos polos de comércio mais tradicionais de Cuiabá, com clientela fiel e funcionamento há quase 30 anos.
Presidente da Associação dos Camelôs do Shopping Popular, o ex-vereador Misael Galvão, diz que a tragédia abalou profundamente a estrutura da entidade e dos trabalhadores. “Não foi só o patrimônio físico. Muita gente perdeu o emocional. Tivemos que nos reunir para cuidar uns dos outros, dar suporte psicológico e reconstruir nossa história do zero”.

A associação toca, com recursos próprios, a reconstrução do Shopping Popular. Uma nova estrutura provisória foi erguida com cerca de 6 mil m² alugados, para abrigar os comerciantes enquanto as obras do novo prédio avançam. Segundo Galvão, hoje cerca de 80% dos boxes já voltaram a funcionar.
Governo Federal discute apoio via crédito
A previsão é de que o novo shopping seja entregue em abril de 2026. O projeto mantém a planta original de 2014, mas incorpora melhorias em acessibilidade e funcionalidade. A obra não conta com apoio financeiro público. “Como somos uma associação privada com concessão da área, o poder público não conseguiu viabilizar recurso direto. O que tivemos foi apoio moral e institucional”, explica o presidente.
Segundo ele, há conversas em andamento com o Governo Federal para garantir linhas de crédito aos lojistas. “Estamos em diálogo com o ministro Carlos Fávaro [PSD] e ainda há esperança de um suporte. Seria importante, por exemplo, ter acesso a capital de giro”, afirma.
O Shopping Popular de Cuiabá é conhecido por sua clientela fidelizada e por ter contribuído com a geração de renda de milhares de famílias ao longo das últimas três décadas. Apesar das perdas, o sentimento entre os trabalhadores é de resiliência. “Eu tinha certeza de que o shopping seria reconstruído”, diz Laurinha. “A gente que começou sem teto, sem chão, não desiste fácil. Todo dia eu olho a obra e agradeço. Tem cliente que vem aqui só para ver como está ficando”.
