
A nova edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia aponta que municípios de Mato Grosso concentram algumas das maiores taxas de mortes violentas intencionais da região entre 2022 e 2024. O levantamento, elaborado pelo Instituto Mãe Crioula em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foi divulgado nesta quarta-feira (19.11) e analisa dados de 772 cidades da Amazônia Legal.
O relatório aponta que Vila Bela da Santíssima Trindade, fronteira com a Bolívia, teve a maior taxa de violência letal de toda a Amazônia no triênio analisado. Outras cidades mato-grossenses como Nobres, Alto Paraguai, Barra do Bugres, Aripuanã e Sorriso também aparecem entre as mais violentas em seus respectivos grupos populacionais.
Vila Bela registrou 12 assassinatos em 2022, 17 em 2023 e 42 em 2024, uma alta de 250% no período. O aumento, segundo o estudo, está ligado a dois fatores: a posição geográfica, com 750 km de fronteira seca com a Bolívia, e o avanço acelerado do garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé.
“Chama a atenção o fato de Vila Bela da Santíssima Trindade não ter figurado no ranking das 50 cidades mais violentas na edição anterior do Cartografias. Considerando que o caráter fronteiriço do município permaneceu inalterado, o agravamento da violência no território parece estar fortemente associado à intensificação do garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé”, traz um trecho do estudo.
A região tornou-se rota estratégica para a entrada de cocaína produzida na Colômbia e transportada via Bolívia. Em paralelo, a intensificação do garimpo coincidiu com a entrada do Comando Vermelho, que passou a controlar áreas de extração de ouro, cobrar mensalidades, impor regras e monitorar a circulação de trabalhadores no território indígena.
A Sararé foi, em 2024, a terra indígena mais afetada por garimpo ilegal no país, segundo o Greenpeace. Como destaca o estudo, a Polícia Federal e o Ministério dos Povos Indígenas deflagraram uma operação de desintrusão entre agosto e outubro deste ano, que destruiu mais de 150 escavadeiras e causou prejuízo estimado de R$ 237 milhões a grupos criminosos.
Cidades de pequeno porte
Nobres (a 120 km de Cuiabá) aparece como o segundo município mais violento da Amazônia entre os de pequeno porte. A cidade sofre forte influência do Comando Vermelho, e o número de mortes violentas dobrou entre 2022 e 2024. Disputas com o PCC explicam parte dos assassinatos registrados.
Alto Paraguai, com cerca de 8 mil habitantes, ocupa a quarta posição entre os pequenos municípios mais violentos. O estudo associa os índices à presença da facção Tropa do Castelar (uma dissidência do CV), ao histórico de garimpo e às pressões de atividades agropecuárias e minerárias.
Cidades de médio porte
No grupo de municípios com 20 a 50 mil habitantes, Barra do Bugres está entre os mais violentos da Amazônia. As mortes subiram 52% no triênio, impulsionadas pela disputa territorial entre CV e PCC em rotas usadas pelo tráfico oriundo da Bolívia.
Aripuanã aparece na terceira posição neste grupo. A cidade reúne elementos típicos de territórios de conflito na Amazônia: mineração legal e ilegal, presença de facções, desmatamento e proximidade com terras indígenas. A operação Primatus, deflagrada em 2025, identificou cobrança de “impostos” por parte do Comando Vermelho sobre a exploração de ouro.
Grandes cidades
Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Sorriso, no norte de Mato Grosso, lidera o ranking de maiores taxas de violência da Amazônia Legal. Com economia ligada ao agronegócio, o município virou alvo de facções que disputam rotas logísticas e pontos estratégicos do estado.
O estudo mostra que, apesar de quedas recentes, a Amazônia Legal continua com taxa média de 27,3 mortes violentas por 100 mil habitantes em 2024, 31% acima da média nacional.






















