Uma das confusões dos políticos da direita e do centro, por esperteza ou ignorância, é chamar a extrema direita de “direita”. Não é. A extrema direita, definitivamente, não é nem a direita clássica conservadora e nem a direita autoritária. A extrema direita está no seu quadrado, no limite do espectro ideológico, na ponta contrária à extrema esquerda.
Entre a esperteza sincera ou a ignorância conveniente, o governador Mauro Mendes (União) comemorou na última semana o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao seu nome na disputa pelo Senado em 2026, rotulado por ele como o “maior líder da direita brasileira”. Mendes teve a preocupação de reduzir a dimensão negativa da condenação do ex-presidente pelo Poder Judiciário por tentativa de golpe de Estado.
A definição da extrema direita que trabalhamos para definir o bolsonarismo como um populismo autoritário de viés totalitário contempla pontos essenciais:
– Discurso da verdade única;
– Apologia à tortura e à ditadura militar;
– Extermínio dos adversários políticos;
– Controle total dos Poderes de Estado para uma democracia de fachada;
– Repulsa ao Outro, desprezo pela diversidade.
Mauro Mendes concorda com Bolsonaro quando diz que o erro da ditadura no Brasil foi ter torturado e não ter matado mais? Achou “engraçado” quando Bolsonaro em 2018 disse que tinha de “metralhar a petezada”? Vai fazer a campanha eleitoral ao Senado declarando publicamente o compromisso de votar pelo impeachment do ministro do STF? Vai trabalhar no Senado contra os direitos dos cidadãos e cidadãs LGBTQIA+? São as perguntas a partir de agora que não querem calar para Mendes responder como um “homem do Mito”.
Politicamente, não basta ter o apoio do líder da extrema direita. Mauro Mendes terá que defender as pautas e posições extremistas, ou não terá os votos dos bolsonaristas raiz, que tem fortes resistências ao seu nome. Ou ele assume a sua porção extremista ou terá problemas para cativar corações e mentes dos bolsonaristas de Mato Grosso.
Ao fim e ao cabo, nas suas declarações de júbilo pelo apoio do líder da extrema direita, Mauro Mendes, mais uma vez, fala de que trabalhou nos bastidores para livrar Bolsonaro da cadeia. O apoio do ex-presidente à sua candidatura ao Senado seria uma retribuição, um troca-troca de favores, conforme declaração registrada pelo site Gazeta Digital:
“As articulações políticas acontecem, é natural. Fazem parte do jogo. Dialogo nos bastidores, sempre fiz movimentos silenciosos e eficazes. Fico feliz em conseguir o apoio do Bolsonaro, seguramente o maior líder da direita, hoje. Independente da condição que está, é um líder que conquistou com coragem e bravura, muito respeitado em Mato Grosso. O apoio dele é muito importante”, destacou.
O governador deve à sociedade de Mato Grosso e ao Poder Judiciário uma explicação clara do que significa “movimentos silenciosos e eficazes” em defesa de Bolsonaro. Por que precisaram ser “silenciosos”? Por que foram “eficazes”, se Bolsonaro acabou sendo condenado? O que o envergonha para precisar usar o silêncio? Com a palavra, o senhor governador.
*Pedro Pinto de Oliveira é jornalista e professor da UFMT. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e doutor em Comunicação pela UFMG.