Para não cair no Buraco da Memória: na última semana, a deputada Janaína Riva (MDB) e o governador Mauro Mendes (União) protagonizaram um debate público com troca de acusações pessoais e políticas. Mauro disse que Janaína era um “fantoche” do pai, o ex-deputado José Geraldo Riva. Janaína rebateu dizendo que o governador deveria explicar as delações que tem contra si, exigindo respeito à sua condição de mulher.
Os machistas de plantão criticaram a parlamentar, dizendo que o papel de mulher “vítima” não lhe cairia bem. Pura ignorância ou má-fé. Janaína, na verdade, falou por ela e por todas as mulheres. Não é porque a deputada tem opinião e personalidade forte, ocupa um lugar de poder político que não lhe caberia o dever de fazer uma defesa dela que por extensão é uma legítima defesa de todas as mulheres, vítimas de preconceitos e agressões.
A lógica torta destes machistas é que sendo uma mulher poderosa, Janaína não poderia falar como “vítima”. É justamente ao contrário, sendo uma mulher poderosa, Janaína tinha que acusar o ataque machista como ela fez. Uma coisa é ser vítima sem voz, a outra coisa é ser vítima com força de reação de quem fala por ela e por todas as mulheres. Simples assim.

Vale lembrar que estamos em Mato Grosso, o estado da matança de mulheres. A fala de Janaína tem peso e importância nesse contexto. A crítica de um pretenso papel de vítima é uma forma de fazê-la calar sobre essa situação cruel e dramática que as mulheres enfrentam diariamente. Na cultura machista, a mulher deve apanhar calada. Para estes machistas, Janaína não deveria ser mulher.
A deputada afirmou que não se calará diante de gestos canalhas da cultura machista: “Ser mulher e mãe na política é um desafio diário. Tentam nos desqualificar, descredibilizar, atacar o que temos de mais precioso: nossa família. Mas eu sigo firme porque sou movida por sentimento e razão”, afirmou.
O machismo é instituidor de práticas sociais de enaltecimento do masculino contra o feminino, ou seja, perpetua suas crenças na desqualificação da mulher, na ideia torta de que o homem é superior e “dono” da mulher. Já o sexismo baseia-se em práticas discriminatórias de gênero, a partir da definição de usos e costumes que diferenciam homens e mulheres.
Ao fim e ao cabo, o governador Mauro Mendes, lamentavelmente, juntou-se ao que há de pior entre os políticos machistas em Mato Grosso na sua tentativa de desqualificar a condição de mulher da deputada Janaína Riva: o vereador bolsonarista Rafael Ranalli (PL) e o suplente de deputado estadual Hugo Garcia (Republicanos). Ambos já fizeram vergonhosas declarações públicas agressivas contra as mulheres.