
A Prefeitura de Cuiabá, sob gestão do prefeito Abílio Brunini (PL), determinou a suspensão do dia exclusivo para agendamentos de consultas de pré-natal nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital. A medida, que foi comunicada em reunião realizada na semana passada com gerências das unidades, foi alvo de críticas por profissionais de saúde, em razão dos riscos à saúde das gestantes, em especial daquelas com comorbidades e gravidez de alto risco.
A nova determinação extingue os dias específicos para atendimento a gestantes, tradicionalmente reservadas para os pré-natais. Ao PNB Online, uma profissional que pediu para não ser identificada relatou que, já na última semana, gestantes que procuraram uma UBS dividiram o mesmo espaço com pacientes com suspeita de doenças contagiosas, sem estrutura adequada e sem um ambiente reservado.
A fonte também relatou falta de suporte geral para gestantes de alto risco, que necessitam de acompanhamento especializado. “Há gestantes com doenças graves, que deveriam estar no pré-natal de alto risco, mas não há vagas disponíveis pelo SISREG [Sistema Nacional de Regulação]. O município não tem um ambulatório específico para isso funcionando, e quando sai uma vaga, é para o Júlio Muller ou para o Hospital Geral, que não são da rede municipal. Muitas vezes, a gestante já teve o bebê e a vaga ainda não saiu”, relatou.
Há um temor de que, ao priorizar as demandas espontâneas, conforme estabelecido pelo decreto assinado pelo prefeito no dia 23 de janeiro, o acompanhamento das gestantes possa não ocorrer da forma ideal. A preocupação se dá diante do risco de que a qualidade do pré-natal, essencial para a saúde da mãe e do bebê, seja comprometida pela sobrecarga de atendimentos nas unidades de saúde.
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), o pré-natal deve ser uma das prioridades das equipes de Saúde da Família. A entidade explica que para garantir a qualidade do atendimento, é importante que mudanças no modelo de assistência considerem fatores como a carga horária dos profissionais, o número de gestantes acompanhadas, a estrutura física disponível para consultas individuais e as rotinas das UBSs.
Apesar disso, profissionais entrevistados pela reportagem afirmam que a prefeitura não os consultou sobre as alterações. “O modelo mais correto é aquele que se ajusta às necessidades da população vinculada, às possibilidades dos profissionais e à capacidade instalada do serviço. Contudo, reforçamos que, de acordo com as melhores evidências e boas práticas clínicas, o atendimento regular das consultas pré-natais deve ser programado, garantindo à gestante seu dia e horário reservado para atendimento, sempre no melhor interesse de facilitar seu acesso e adesão ao acompanhamento”, destacou Arthur Fernandes, médico de família e comunidade, diretor do Departamento de Comunicação SBMFC ao PNB Online.
A redação questionou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre a mudança, que afirmou que “unidades tiveram a necessidade de alterar o dia específico dedicado a esses atendimentos, mas em todos os casos, as pacientes estão sendo devidamente comunicadas sobre as mudanças”. A pasta não informou as razões que levaram à mudança e o motivo das equipes de saúde não terem sido consultadas sobre a decisão.
Confira a nota na íntegra:
Nota à Imprensa
Em resposta ao questionamento sobre a suspensão de dias dedicados ao atendimento de gestantes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), esclarecemos que os atendimentos de pré-natal continuam sendo mantidos regularmente.
Algumas unidades tiveram a necessidade de alterar o dia específico dedicado a esses atendimentos, mas em todos os casos, as pacientes estão sendo devidamente comunicadas sobre as mudanças. O objetivo dessas adequações é garantir um atendimento de qualidade e melhor organização dos serviços prestados.
*Matéria atualizada às 12h18, com acréscimo da nota enviada pela SMS ao PNB Online.