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Qual é a cidade que tem estátuas para homenagear mulheres, negras e pobres?

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A cena urbana de Cuiabá mostra “monumentos” dos mais diversos tipos. Os mais notórios e atuais são os “monumentos” deixados pelo desgoverno Silval Barbosa (PMDB): as obras inacabadas e obras mal feitas da Copa do Mundo. São viadutos prontos para cair nas cabeças do cuiabanos e trilhos sem trem, a obra inacabada do VLT.
Há os monumentos marcados pela ausência: Cuiabá é chamada de Cidade Verde, mas esse título é uma rematada fraude. A Capital é o símbolo da falta de investimento nas áreas verdes. Uma cidade com ruas sem árvores: uma marca do atraso, culpa dos poderes públicos e da sociedade.
Além da incúria do governo Silval, além da vergonha ambiental da falta de árvores, Cuiabá tem mais uma lastimável marca urbana: a cidade sem calçadas. Não há nada mais democrático e público do que calçadas, mas é, lamentavelmente, artigo raro na cena urbana cuiabana.
Mas nem tudo é motivo de vergonha. Há do que se orgulhar. Por incrível que pareça, Cuiabá é uma cidade à frente do seu tempo, moderna e visionária, na questão de outros monumentos. A Capital de Mato Grosso é uma das raras cidades do mundo que tem dois monumentos públicos para homenagear duas mulheres, negras e pobres. Em que outra cena urbana brasileira existe isso? Onde as mulheres disputam espaço com generais, bigodudos, homens de letras e poderosos?  Ainda mais mulheres negras e pobres. Só em Cuiabá.

 

Maria Taquara

O primeiro desses monumentos públicos é a estátua de Maria Taquara, entregue à população de Cuiabá pelo então prefeito Gustavo Arruda, ainda na época dos governos indicados pela ditadura militar. Arruda era um prefeito bem-humorado, divertido, que fazia o contraponto com o mau-humor do então governador Frederico Campos, também nomeado pelos generais.
Com uma escultura em bronze em uma pequena praça no centro de Cuiabá, do artista Haroldo Tenuta, Maria Taquara nos faz questionar quem foi essa personagem na história Cuiabana.
Segundo matéria do Artigonal, escrita por Henrique de Araújo, publicada dia 30/08/09, Maria Taquara foi uma mulher magra, alta, negra, vivia de trabalhos domésticos – lavar roupa – durante o dia; a noite, servia sexualmente os soldados do 16º batalhão na década de 40 em troca de algumas moedas. Ficou famosa em Cuiabá por seus serviços prestados e por ser uma das primeiras mulheres a usar calça comprida e também por ser muito corajosa.
Moisés Martins, dedicou uma poesia a essa personagem que até hoje inspira a imaginação dos cuiabanos e seus visitantes:
 
Maria Taquara, Maria meu bem.
Mulher de todos, que não é de ninguém.
Taquara de dia, de noite meu bem,
Maria Taquara, não é de ninguém.
Muié de sordado, de Meganha também.
De dia Maria, de noite meu bem.
Maria é Cuiabá, Cuiabá é Maria
Não importa se é noite, não importa se é dia.
Maria é Taquara,
Taquara é Maria,
Avançada no tempo,
Mulher fantasia.”

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Mãe Bonifácia

A estátua em homenagem a outra mulher negra e pobre está localizada no Parque da Cidade Mãe Bonifácia. O parque é uma obra do ex-governador Dante de Oliveira, que fez questão de homenagear uma mulher do povo
Segundo conta a jornalista Marianna Marimon, Mãe Bonifácia se tornou uma lenda em Cuiabá. Mas é recorrente muitos duvidarem da veracidade da sua história, afinal, no século 19, uma mulher negra e escrava, que auxiliava a fuga dos outros escravos, parece ser ficção. Porque deixariam Mãe Bonifácia livre, enquanto todos os outros estavam encarcerados? A resposta quem dá é o historiador Aníbal Alencastro, que rememorou a história da negra escrava no livro “Cuiabá: histórias, crônicas e lendas”.

A história de Mãe Bonifácia marcou mesmo já no fim da sua vida. Aníbal conta que a velha negra e escrava parou de ser incomodada devido a idade avançada e ao deixarem de usar seus serviços, foi morar na saída para a Estrada da Guia, em um barracão em frente ao 44º Batalhão e também era ali que nascia o córrego, que viria a ter o mesmo nome “Mãe Bonifácia”.

Curandeira, africana, com um vasto conhecimento sobre as plantas. Mas, porque a sua história marcou tanto? A estátua que hoje se situa no parque que leva o nome da mãe negra, retrata bem a conduta de Mãe Bonifácia diante dos fracos e oprimidos. Ela curava os negros, os salvava da perseguição e os guiava pelo rio até o quilombo situado na mata densa, onde hoje se localiza o parque. A dor que ela sentia no peito, só podia ser esvaziada se pudesse salvar aqueles que passavam pelo mesmo sofrimento que ela: a privação da liberdade.

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Quando havia revolta em Cuiabá, e os negros fugiam, era atrás da Mãe Bonifácia que iam em busca de auxílio, já que ela os escondia. A negra orientava os fugitivos a andarem pelo córrego para que os cães dos capitães do mato, não pudessem farejá-los. Com isso, Mãe Bonifácia os guiava mata adentro, até o quilombo (que depois originou o nome do Bairro do Quilombo).

Com relação aos questionamentos sobre a sua existência, Aníbal é categórico “sim, ela viveu aqui, sua história é real”. O pesquisador levantou a trajetória de Mãe Bonifácia a partir de familiares remanescentes de escravos, que até a década de 1950, os avós destes que residem atualmente, viviam no Despraiado e contavam a história da negra velha que ajudava os escravos. Os refugiados também chegaram a ser retratados em livro de Estevão de Mendonça.

A Lei Áurea só foi aprovada em 1888, já no fim do século 19, quando Cuiabá era apenas a região do Centro, da Prainha, com o ouro a jorrar das águas, com a exploração do garimpo em pleno vapor e a exploração do trabalho escravo também. O ouro resplandecia mas, era preciso um olhar atento, para entrever que era também a ruína, a escuridão, a morte que espreitava os negros exauridos pelo trabalho árduo, pelas injustiças, surras, e ver seu corpo valer menos que a sua própria vida.

Os descendentes dos refugiados ainda estão na Estrada do Despraiado. Há um fundo de verdade sobre Mãe Bonifácia. Aníbal ressalta a importância de se manter viva a sua história e memória, “é a nossa raiz, os negros que fizeram Cuiabá em seus primórdios, com as minas de ouro e as mucamas nas casas dos patrões”.

A estátua mostra a Mãe Bonifácia com a mão estendida, o peito aberto e o amor de mãe que a eternizaram. E a sua lição é o que nos sobrou: amar independente de todas as adversidades e acreditar que através de nossas próprias mãos, um mundo melhor é possível, mas é preciso lutar e preseverar.
Essa é a homenagem do Blog do Antero às mulheres neste dia 8 de março.

 

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